Objetivo:
A obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) causada pelo estreitamento da nova via de saída (nova-VSVE) permanece como um dos principais obstáculos para a realização da substituição transcateter de valva mitral (STVM), sendo um preditor de aumento do gradiente de via de saída do ventrículo esquerdo no pós-procedimento. Atualmente, a predição do risco desta complicação requer avaliação com tomografia computadorizada, implicando em custo adicional e riscos de reação alérgica e de nefrotoxicidade pelo contraste.
Um novo software de pós-processamento permite a determinação ecocardiográfica tridimensional (3D) das dimensões do anel mitral e da nova via de saída do ventrículo esquerdo (nova-VSVE) em pacientes submetidos à substituição da valva mitral transcateter (STVM).
O estudo visa testar a acurácia da análise ecocardiográfica 3D do tamanho do anel mitral e da área da VSVE, em comparação com a tomografia computadorizada (TC) basal.
Métodos:
O estudo avaliou retrospectivamente 105 pacientes consecutivos que foram submetidos a STVM em dois centros (Columbia University Medical Center, EUA e Bern University Hospital, Suíça) entre outubro de 2017 e maio de 2023.
Uma válvula virtual foi projetada tanto na TC basal quanto na ecocardiografia transesofágica 3D (ETE 3D) usando um software dedicado. As medições foram comparadas à TC basal como referência. A área predita da nova-VSVE foi correlacionada com os gradientes de pico da VSVE pós-procedimento.
Resultados:
A idade média dos pacientes foi de 75,8 ± 10,5 anos, sendo sua maioria do sexo masculino (56%) e em classe funcional (NYHA) III (67%). O escore STS médio foi de 7,4 (4,4-14) e a principal indicação para a STVM foi degeneração de prótese ou anel (60%).
Na comparação das medidas da nova-VSVE entre TC e ETE 3D, houve moderada a alta correlação dos parâmetros, sem viés significativo entre os métodos. Na análise do anel mitral, o ETE 3D subestimou significativamente a área, o perímetro e a dimensão medial-lateral do anel mitral em comparação com a TC.
Em relação à TC basal, ambas as modalidades de imagem subestimaram significativamente a área da nova-VSVE medida após o procedimento (viés médio pre/pós ETE: 25.6 mm², limite de concordância: 92.2 mm² a 143.3 mm² ; P < 0.001; viés médio pré/pós TC: 28.3 mm² , limite de concordância: 65.8 mm² a 122.4 mm² ; P = 0.046).
Houve uma correlação inversa, moderada e não-linear entre a área predita da nova-VSVE e o gradiente de pico da VSVE pós-procedimento em ambas as modalidades s (r² = 0.481; P < 0.001 para ETE 3 D; r² = 0.401; P < 0.001 para TC).
Conclusão:
A análise derivada da ETE 3D fornece resultados comparáveis às métricas derivadas da TC na predição da área da nova-VSVE e do gradiente de pico da via de saída do ventrículo esquerdo após a STVM, podendo reduzir a necessidade de TC com contraste, diminuindo custos e riscos.
Título original: 3-Dimensional Echocardiographic Prediction of Left Ventricular Outflow Tract Area Prior to Transcatheter Mitral Valve Replacement
Autores: Joanna Bartkowiak, MD, Chrisoula Dernektsi, MD, Vratika Agarwal, MD, Mark A. Lebehn, MD, Treena A. Williams, MS, Russel A. Brandwein, MS, Nicolas Brugger, MD, Christoph Gräni, MD, Stephan Windecker, MD, Torsten P. Vahl, MD, Tamim M. Nazif, MD, Isaac George, MD, Susheel K. Kodali, MD, Fabien Praz, MD, Rebecca T. Hahn, MD
Referência: JACC - Cardiovascular Imaging, https://doi.org/10.1016/j.jcmg.2024.05.011
Data de publicação: In press (disponível online em 24 de julho de 2024)